Implicações Sociais
Um conselho: invista na socialização do seu filho. Seja na família, no bairro, na escola, na igreja… Lembre-se de que na vida adulta ter amigos é importante para afastar a solidão, a ansiedade e a depressão. Além disso, as relações interpessoais contam, e muito, para o mercado de trabalho.

É difícil, mas possível, manter amigos
Meninos com 48 XXYY também têm maior predisposição a dificuldades sociais e emocionais. Quando testados na subscala de motivação social, ficou claro que os indivíduos com aneuploidias têm interesse e são motivados por interações sociais, mas seus deficits em cognição social, comunicação social, e as maneiras próprias do autismo contribuem grandemente para a retração social.
Segundo os pesquisadoras isso se dá pela dificuldade de interpretar expressões faciais (Teoria da Mente), de processar “deixas” sociais e de entender essas deixas até no tom de voz.
Estudo da Dra Jeannie Visootsak e outros pesquisadores entitulado “Fenótipo comportamental das aneuploidias cromossômicas 48xxyy, 48xxxy e 49xxxxy” mostra que as crianças têm interesse em ajudar outros, mas têm pouca tolerância à rejeição ou se forem alvo de chacota.
Uma avaliação completa das habilidades sociais dos indivíduos com aneuploidia pode ser vista neste artigo.
Faz-se importante lembrar que uma boa parcela dos meninos 48XXYY têm comportamentos associados aos Transtornos do Espectro Autista (TEA) e ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Isso, por si só, já mostra que as interações sociais e os relacionamentos podem ser áreas em que a criança precisa de intervenção de profissionais como psicólogos e/ou psiquiatras.
Nesta entrevista ao nosso canal do YouTube, Papo de Cromossomos, a psicóloga Marina Scalco dá importante dicas de como facilitar a socialização dos meninos com importantes traços de autismo (TEA) e de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH):
Ferramentas para socialização
Para preparar melhor as crianças na área social – especialmente as diagnosticadas com Asperger como um dos resultados da cromossomopatia – há técnicas como: o adulto brincar interpretando o papel de criança, para que eles “treinem” as relações sociais; o adulto se colocar numa posição em que precisa que a criança o ajude; filmagem da criança em experiências sociais; jogos de encenação usando a imaginação da criança como base para o roteiro; elogio para quando a criança age da maneira correta.
Seja qual for a ferramenta, é preciso dar o feedback positivo quando acertam. Por exemplo: se a criança estava jogando futebol e um amigo se machucou, é interessante dizer: “nossa, que bom amigo você foi quando você chegou perto dele para ajudar”.
É interessante fazer um “diário da amizade” para registrar e iniciar em família a discussão sobre esses comportamentos sociais (social stories).
No diário é importante contar situações, momentos ou conceitos com deixas sociais importantes e perspectivas.
A intenção é compartilhar informação precisa tanto social quanto emocional relativa ao dia-a-dia da criança. Pelo menos 50% das histórias devem mostrar tentativas bem-sucedidas de convívio social.
Uma das questões essenciais ao escrever uma social story é entender a percepção da criança com Asperger sobre uma situação, abandonando a ideia de que o adulto sabe fatos, pensamentos, emoções e intenções da criança.
Teoria da mente
Chamamos de teoria da mente a habilidade de compreender e interpretar os estados mentais de outras pessoas.
No autismo, essa capacidade de se colocar no lugar do outro para inferir seus pensamentos ou estados mentais é muito limitada.
Nesta entrevista ao canal do plano de saúde SIS sobre a vida do autista no mercado de trabalho, a psicóloga Sara Endho Bonates aborda a teoria da mente e outros desafios que acompanham o autista adulto nessa fase da vida.