Escolhas sobre Medicação

Como debater com os médicos a necessidade de remédios, especialmente os psiquiátricos.

Ambiente favorável

Segundo Nicole Tartaglia na palestra Making Medication Decisions, em Aurora, no Colorado, durante o encontro sobre alterações cromossômicas do X e do Y, em 2017, muitas vezes é preciso avaliar se medicações – embora não sejam o norteador do tratamento – podem ajudar o indivíduo com duplicações no último par de cromossomos. 

Eis aqui uma síntese em português da palestra de Tartaglia:

O tratamento de pessoas com XXYY (e demais alterações) basicamente consiste em: suporte acadêmico, terapia ocupacional, fonoaudiologia, terapia comportamental e, muitas vezes, medicação.

É preciso lembrar que esse trabalho engloba família, casa, ambiente, escola. Dois pontos importantes para considerar:

1) o ambiente familiar precisa ser calmo para os irmãos não afetados pela síndrome, pois eles precisam crescer num lar seguro e propenso ao desenvolvimento e educação deles.

2) a corrida entre as terapias não deve exaurir a criança e a família

Quando medicar uma criança XXYY?

A resposta é quando o comportamento dela envolver questões de:

– saúde e segurança (ameaça com facas, autoflagelo, agressão, sentimento de perigo, comportamento obssessivo, períodos pequenos de atenção e foco para comer).

– baixo rendimento acadêmico (distração nas aulas, falta de foco, falta de atenção, ansiedade)

– baixo rendimento nas terapias (dificuldade de começar as atividades propostas pelos terapeutas)

– pouca participação na família (dificuldade para se organizar, para sair de casa, para estar num restaurante, etc.)

– dificuldades sociais (não presta atenção a outras crianças, dificuldade em manter os amigos, comportamento irritante, desconforto em público)

– abalo na autoestima (frases como “não consigo”, “sou pior que”, “não presto para nada”, automutilação e pensamentos ou tentativas de suicídio).

Na opinião de Tartaglia, a medicação não precisa ser o último recurso. O paciente não precisa e não deve chegar ao ponto de uma crise forte para que comece a ser medicado. A criança não deve ter de sofrer por anos e dentro de um cenário de crise iminente para ter direito à medicação.

Antes de medicar é preciso também considerar problemas médicos colaterais da síndrome que podem afetar e piorar o comportamento:

  • infecções de ouvido
  • problemas dentários
  • dores de cabeça
  • constipação intestinal
  • problemas de audição e de visão
  • convulsões
  • problemas de tireóide
  • dificuldades no sono / sono agitado
 

Identificando o alvo da medicação:

Sobre as diferenças no desenvolvimento e nas funções cerebrais, há dois grupos de sintomas a ser considerados (como não sou médica, por isso vou descrever os princípios ativos e nomes de marcas em inglês para não errar).

Grupo I

No primeiro estão as dificuldades em aprendizagem e cognitivas: atraso no desenvolvimento, dificuldade de aprender, deficiência intelectual, imaturidade intelectual e dificuldades cognitivas causadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A medicação deve ser estudada de acordo com as necessidades específicas do paciente.

Grupo II

No segundo grupo estão: 

a) pacientes com atenção reduzida (short attention span), sensibilidades sensoriais, irritabilidade, agressividade, transtornos de comportamento obsessivo, comportamentos estereotipados e repetitivos.

Alvo: fazer a criança estar menos “sensorial”, tolerar melhor as transições, ter menos pânico, ser mais flexível a mudanças de rotina e ter menos picos de emotividade.

Medicação: está dividida em três grupos. Dependendo da maior necessidade da criança, o psiquiatra pode optar por ansiolíticos, antipsicóticos ou estabilizadores de humor.

Ansiolíticos: Os medicamentos identificados como Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina (em inglês, os SSRIS) aumentam os níveis de serotonina no cérebro reduzindo timidez, choro, fadiga, isolamento, medos, preocupações, ataques de pânico, irritabilidade e quadro depressivo.

Os SSRIS reduzem mudanças bruscas de humor, picos de ansiedade e hábitos ligados a ela, como roer unhas e pegar repetidamente em partes do corpo e comportamentos repetitivo. É esperado também como efeito dos inibidores de recaptação de serotonina um comportamento social mais confortável, melhor ritmo na fala (mais fluente e rápida) e maior tolerância a mudanças, assim como uma melhor habilidade para transições.

Nessa classe estão: citalopram, escitalopram, setaline e fluoxetine (marca: prozac).

Antipsicóticos atípicos: resperdal, aripiprazole, quetiapine

Estabilizadores de humor: litium, depakote, trileptal, lamictal

b) pacientes com sintomas semelhantes ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), associado a impulsividade, hiperatividade e pouca concentração.

Alvo: ter mais concentração e menos distúrbios do comportamento

Medicação: voltadas para TDAH, ela podem ou não ser um estimulante das funções executivas ligadas à parte frontal do cérebro.

Eles podem ser tomados com mais flexibilidade, por exemplo, apenas em dias letivos, ou antes de um treino, ou em situações nas quais a criança tende a demonstrar mais os sintomas da ansiedade, por exemplo, um treino de futebol.

Fórmulas e marcas: entre os estimulantes das funções executivas, estão methylphenidate (marcas: focaline, ritaline, concerta e metadate), dexedrine, adderall e vyvanse. 

Entre os não estimulantes estão: atomoxetine (marca: strattera), geranfacine (marca: intuniv), o clonidine (marca: catapres) e o buproprion (marca: wellbutrin).