Um pouquinho de Genética






A primeira pergunta após o diagnóstico é sempre: “de onde vem isso”? Abaixo estão algumas respostas, mas para quem quer se aprofundar indico o trabalho da equipe coordenada pela bióloga Dra. Michelle Susin, atualmente ainda em fase de pesquisa. Assim que liberado, daremos o link.
E no início, era uma célula...
Em primeiro lugar, vamos falar deles, os cromossomos. Por definição, o ser humano tem 23 pares de cromossomos. Ao todo, portanto, 46 unidades. Veja aqui como eles se apresentam em cada célula:

Vamos agora voltar um pouquinho às aulas de biologia no Ensino Médio. Na concepção, as células vão-se dividindo em processos que chamamos de meioses e mitoses – na qual duas células se dividem ao mesmo tempo formando “copias” do original.
Nessa divisão os cromossomos também se “multiplicam” aos pares, carregando a informação (DNA) do indivíduo. Em casos raros, as divisões não se dão perfeitamente. Aí é quando acontece a aneuploidia – uma mutação cromossômica numérica caraterizada pela existência de cromossomos a mais ou a menos em relação ao número normal (46 cromossomos divididos em 23 pares).
A deleção (falta) de parte dos cromossomos pode levar a síndromes como a de Cri du Chat, no cromossomo 5, caracterizada por retardo mental e por microcefalia.

Outro exemplo é o cromossomo 22 curto (“cromossomo Filadélfia”), associado a uma forma de leucemia. A síndrome de Turner, em que a mulher nasce sem o sistema reprodutor, é a ausência de um cromossomo X, ela possui 45 no total.

Há casos fatais, claro. Um estudo apresentado em 2010 pelos geneticistas Aaron Thiesen e Lisa Shaffer, nos Estados Unidos, aponta que o desequilíbrio cromossômico é responsável por 25% dos abortos espontâneos e natimortos, chegando a 60% dos abortos de primeiro trimestre.
As duplicações
Diferentemente das deleções (falta de parte dos cromossomos), na duplicação há a formação de um segmento adicional em um ou mais cromossomos, o que pode ser melhor que a deleção porque não há falta de material genético.
Chamamos essas duplicações de trissomias (quando envolvem um cromossomo a mais), ou polissomias, quando mais cromossomos aparecem. A trissomia 21, conhecida popularmente como Síndrome de Down, é a mais conhecida. Nela a pessoa tem três cópias (uma a mais) do cromossomo 21.
Já a trissomia no cromossomo 18 leva à síndrome de Edwards – má formação de vários órgãos e anomalia cerebral – e é a segunda mais registrada. A terceira trissomia mais comum é a que envolve o cromossomo 13, conhecida como Síndrome de Patau.
A tetrassomia 48, XXYY

A síndrome 48,xxyy é uma tetrassomia no último par de cromossomos, justamente o par dos cromossomos sexuais. Ou seja, em vez de 46 cromossomos, o portador tem uma cópia extra do último par, o que o faz ser 48 XXYY. Esssa síndrome ocorre numa proporção de 1 a cada grupo de 18.000 a 40.000 homens.
Na genética, o Y é o cromossomo que menos carrega genes vitais – ele é praticamente o cromossomo que contém a informação de gênero, que difere homens de mulheres.
Na avaliação do geneticista que consultamos em São Paulo, o Dr. Ciro Martinhago, qualquer alteração genética é perigosa, mas se pudéssemos escolher, a alteração no último par de cromossomos é a que menos afeta o indivíduo.
Ou seja, a duplicação nos cromossomos sexuais é a mais leve das alterações possíveis quando se trata de deleção ou duplicação genética. Não há, geralmente, anomalias nos demais autossomos (os pares de cromossomos de 1 a 22).
Estudo de Ross, Tartaglia e Cordeiro aponta que o cromossomo X extra é responsável pela baixa produção de testosterona e anomalias nos testículos. Já o cromossomo Y extra está mais associado ao comportamento próprio do autismo e às dificuldades sociais.
Klinefelter e variações
A ciência e a medicina começaram o estudo do 48 XXYY há poucos anos. A síndrome já foi considerada uma variação da síndrome de Klinefelter (47XXY), cuja recorrência na população é de 1:500 homens nascidos vivos. Atualmente, já são reconhecidas significativas diferenças porque os 48XXYY têm problemas de saúde e déficit de desenvolvimento neurológico, psicológico e comportamental aumentados em relação ao grupo Klinefelter.
Nesse rol estão, além dos atrasos no desenvolvimento, os déficits cognitivos de linguagem e os problemas de funções adaptadas (funções executivas). Deficiências como o transtorno do espectro autistas e o TDAH são mais comuns em XXYY que em Klinefelters.