Diálogo que aquece a alma da mãe

Acho curiosa (na verdade bem estressante)  a capacidade de ele entender que a hora esta diretamente relacionada à minha reação de surtar.

Funciona assim: mando levantar e ele fica fazendo corpo mole. E eu juro que sou legal quando acordo. Longe de levantar com o humor ruim.

Eu aviso: “são 6h40”. Ele responde: “calma!”. Dá mais uma revirada na cama. “São 7h”.  Sem resposta. Chega 7h10 e a paciência do dia inteiro já acabou depois do décimo aviso de que ele vai ficar. Pelo tom da minha voz ele analisa meu nível de estresse.

Pronto. Eu surto, chamo o elevador, e digo que vou deixá-lo para trás. É a hora que ele começa a levantar.

Mas nesse dia ele tinha ido bem. Estava conversador e entrou no carro junto comigo (verdadeira raridade).

Indo pelo caminho, e lá pelas tantas ele perguntou:

“Mamãe, tem menina autista ou só menino?”

“Ter, tem. Mas é mais difícil encontrar. Existe a suspeita de que alguma importante combinação genética no cromossomo Y pode estar relacionada ao autismo. Você sabe que as meninas herdam um cromossomo X da mãe e outro X do pai, né? Então elas não têm Y. Já os  meninos pegam um X da mãe e um Y do pai.” 

“Eu também?”

“Não, no seu caso, você herdou dois cromossomos X e dois Y.”

“É por isso que eu tenho autismo?”

“Pode ser por isso, sim. É o mais provável.”

“E existe uma cirurgia que tira autismo?”

Mãe com frio na barriga.

“Não existe. Porque os seus cromossomos carregam o código fonte que Deus desenvolveu só para você quando ele fez o plano da sua vida. Ninguém pode mudar, só Deus. Esse código ele não dá para ninguém. É o segredo dele e ele faz isso pra ninguém atrapalhar o plano dele. “

“Mas se tivesse uma cirurgia, eu não ira querer fazer de todo jeito. Eu gosto de ser autista.”

“Ah, é? E por que você gosta?”

“Porque Deus me fez autista para eu falar com as crianças autistas e entender o que elas querem dizer mesmo quando ninguém mais entende.”

“Que legal, mas como é isso?”

“Quando eu chego ao IMPI (clínica multidisciplinar),  três autistas vêm me abraçar todas as vezes. Eles ficam me esperando chegar.”

“E olha que autista geralmente não gosta de abraço, né? Eles devem confiar em você, te achar um bom amigo.”

“Eles acham sim. Esse é o superpoder que Deus planejou me dar. Eu sou autista para ajudar os autistas.”

“Amém!”

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