O mês era abril de 2018. Eu me lembro de parar o carro na frente do laboratório num shopping do Lago Sul, em Brasília. Tinha uma listinha no meu celular do que eu ia fazer no dia e aquela era só mais uma das paradas antes de conseguir chegar ao trabalho naquele início de manhã.
O cariótipo havia sido pedido por um neuropediatra depois de testes neuropsicológicos que fizemos. O laudo sugeria investigar a possibilidade de autismo no nível mais leve, mais especificamente, a antiga síndrome de Asperger.
Meu filho sempre foi um menino curioso, considerado inteligentíssimo por todo mundo, meio diferentão – como o pai. Não havia nada de errado com ele, mas a gente tinha uma pulga atrás da orelha e um boletim com notas que mostravam, em vez de um aluno brilhante, um carinha em apuros na matemática e outras matérias.
Subi as escadas do laboratório correndo – aliás, vivo correndo como quase toda mãe de dois, divorciada, que trabalha sete horas por dia no emprego e até altas horas para dar conta do batidão… Peguei o envelope.
Quando abri na volta pro carro, passei os olhos por duas informações. A primeira dava “negativo” para o teste de X frágil. Pensei: “ok, negativo é sempre bom”. No outro lado da folha, o cariótipo 48XXYY. Confesso que aquilo não me chamou atenção nadinha, e por uma questão bem simples: “sei nada de cromossomos, mas deve estar tudo certo”.
Já no trabalho, sentada na frente do computador, puxei de novo o papel. Tinha algo ali. O exame vinha com uma observação sobre o número de cromossomos. Na frente da internet, comecei a pesquisar que raios significa 48,XXYY.
Foi ali, em frente ao Grande Oráculo (google), que eu me dei conta da realidade: minha vida nunca mais seria a mesma.