Na infância, minha mãe sempre dizia que quando tivéssemos filhos a gente a entenderia. Tem coisa que só mãe entende, ela está coberta de razão. Mas tem coisa que nem toda mãe entende.
Dia desses meu filho foi a uma festa de aniversário e, como é comum, a mãe anfitriã vai mandando fotos ao longo da programação. Assim que elas chegam pelo whatsapp eu começo a procurar o meu. Às vezes vejo o pezinho dele num canto da foto. Às vezes ele tá atrás do grupo de garotos que se abraça fazendo a pose clássica. Em algumas ele aparece no segundo plano com todas as unhas do dedo na boca – ô hábito difícil esse de roer as unhas…
No grupo de pais do projeto XXYY, sediado nos EUA, as mães lamentam a forma tão rude como seus filhos são tratados por vizinhos e colegas de escola.
Em uma das mensagens a mãe postou uma mensagem arrasadora do filho adolescente. Dizia ele: “eu não tenho nenhum amigo. Se você é meu amigo, por favor me diga. Se você não é, não me conte, porque eu estou triste e sozinho. Todo mundo me odeia, me zomba porque eu tenho um problema, sou autista e tenho dois cromossomos a mais”.
Outra mãe contava como o filho estava sendo isolado no parquinho. Ninguém o deixava entrar na brincadeira.
Para essas mães minha resposta foi a seguinte: “Quando isso acontece por aqui eu tenho muita pena desses meninos que se recusam a brincar com meu filho. Porque eles estão crescendo no mundo errado. Talvez a mãe não seja tão presente, ou talvez ela não saiba ensinar a tolerância. Fato é que ele não está sendo educado para ter uma mente aberta ao ponto de inserir o diferente nela.
Hoje o menino que trata mal é o dono da brincadeira, “o cara” no parquinho.
Mas amanhã meu filho vai ser melhor do que ele em lidar com situações desconfortáveis, sem respostas prontas; ele vai saber tirar o lado bom de uma crítica. Vai ser aquele que a vida ensinou a falar muitas línguas, verbais ou não-verbais, e vai construir pontes na direção de pessoas de todos os tipos”.
Aliás, meu menino, aquele craque em Legos, graças a Deus já é um “construtor de pontes”. Nesta semana ele se sentou para conversar com um menino de rua na porta de uma padaria e levou um sonho para ele.
Marcaram de se encontrar outras vezes enquanto o garoto saboreava o paozinho com creme. Não era só o sonho que o menino saboreava. Era o sonho deles de se tornarem mais iguais, mesmo sendo de mundos tão diferentes.
Honestamente, minha família não está interessada em meninos esnobes que só querem ter um amigo se ele for “normal”, ou que não medem esforços para criticar os diferentes. Eles não são boa companhia, não são modelos a serem seguidos por ninguém. Quanto mais longe dos meus filhos eles estiverem, eu agradeço. Nós procuramos amigos que tenham a compaixão nos olhos, que conseguem ver o bem nas pessoas. Nada menos que isso nos interessa.
Conheci uma mãe que foi surpreendida no mês passado pelo diagnóstico de autismo do filho caçula. Me ligou desesperada, sem saber bem por onde começar. Eu disse: “se Deus te deu esse diagnóstico, ele também vai te dar as ferramentas para trabalhar pelo seu filho. Deus só dá filho com necessidades específicas para mães extraordinárias, que amam mais do que tudo”.
Muitas vezes eu me sinto sozinha no mundo. Esse site mesmo é um grito ecoando no vazio… Ninguém tem os mesmos desafios que eu.
Talvez o maior deles seja criar um filho com necessidades específicas e uma filha que não as tem. Isso se traduz em questões diárias, e logo de manhã cedo.
Todos os dias eu me levanto às 5h28 já com dores de estômago de pensar como vou fazer para estar em duas escolas diferentes até as 7h30.
Meu filho tem uma dificuldade extrema de acordar, comer, escovar os dentes em tempo hábil. E minha filha não tem laudo que respalde seu atraso. Se ela chegar com o portão fechado, mesmo aos 5 anos de idade, terá de esperar a próxima aula sentada na sala da coordenação. E esse é só o início do meu dia.
Minha mãe tem razão. É preciso ser mãe pra entender o sacrifício e o amor de outra. E eu vou além: pra entender meu coração, você precisa ser mãe “especial” também.